São
Thomé das Letras
Esta viagem merece uma
página à parte. Desde 2003 eu tentava ir para lá,
mas por N motivos, nunca deu certo. Até que no final do ano passado,
nós fomos.
Todos temos sonhos, e quando conseguimos realizá-los, a sensação
é indescritível. Quando entrei na cidade, passando pela
igreja matriz, meus olhos se encheram d'água. Isso só aconteceu
uma vez, quando o avião fazia um vôo panorâmico em
cima de Fernando de Noronha na chegada; e novamente, quando ele decolou
para sairmos da ilha. Quando eu saí de São Thomé,
chorei por estar indo embora.
Até hoje, tenho
gravadas nas retinas as paisagens de Noronha, ao fechar os olhos posso
vê-las como se de fato estivesse lá. E com S. Thomé
acontece o mesmo.
Não sei se terei cacife para voltar à ilha, mas certamente
terei para ir para Minas. E vou voltar quantas vezes puder. Mesmo porque,
não consegui tirar todas as fotos que queria, então tenho
um ótimo motivo para voltar ;-)
29/12/2007
Começou a viagem,
saímos às 06:20h. A bagagem estava amarrada de forma que
literalmente me prensava entre ela e o namorido. Quando paramos, depois
de Atibaia para tomar café, amarramos novamente de forma que eu
ficasse menos apertada, só que entre café e bagagem, perdemos
mais de 45min, quase 100km de estrada...
Paramos mais três vezes, porque fala sério, além de
abastecer a moto, a bund's fica em estado de miséria e a sede estava
cruel. Entramos em Três Corações e dali são
mais ou menos 50km até a cidade.
Num determinado ponto da estrada ele me aponta uma montanha, coberta de
pedras brancas, mas não eram pedras em estado natural e sim, montes
de entulho, resto das extrações que as pedreiras fazem.
Uma visão pavorosa. Eu só consegui ver, muito longe, uma
torre de celular. Pensei comigo "que horror, aonde estamos nos enfiando?".
Vale aqui um comentário, eu já havia pesquisado dados da
cidade no net e no Orkut, então sabia, pelos fóruns, que
a extração das pedras está destruindo a cidade.
E aquela estrada não acabava nunca, eu desesperada com dor em tudo
quanto era lugar, e ao mesmo tempo, a expectativa de chegar e encontrar
um lugar que ia amar ou odiar.
Chegando mais perto, tive a noção exata da destruição,
pilhas imensas de entulho por toda parte.
A cidade, que parece ter sido "cavada" no topo da montanha quase
some no meio daquilo tudo.
Aí sobesobesobe e antes de entrar na cidade, alguns moradores estavam
oferecendo quarto, caso não tivéssemos onde ficar, o que
graças aos deuses, não era nosso caso; fizemos reserva no
meio de novembro em uma pousada.
Mais um pouquinho e bingo! eis-me em São Thomé das Letras!
Finalmente. Eram 11:30h.
Chegamos na pousada,
colocamos as coisas no quarto, trocamos de roupa, fomos almoçar
e depois andar pela cidade. Em aproximadamente 40min., se você não
parar muito para olhar as coisas, percorre ela toda. É pequena,
a maior parte do calçamento são pedras irregulares, mas
melhores para pisar que as de Paraty. Só que eu entrei em todas
as lojas, tirei fotos, parei para olhar as casas feitas de pedra. Em algumas
a sobreposição é tão bem feita que nem tem
barro ou argamassa entre elas, já em outras, ficam buracos nas
paredes e consegue-se ver dentro. Fomos ver a gruta de São Thomé,
subimos nela, mais fotos e então fomos "gentilmente"
atacados por um enxame de abelhas!! O namorido levou duas picadas.
Depois nós
subimos para o Cruzeiro, Pedra da Bruxa (que eu não tive coragem
de subir até o topo por causa do pavor de altura que sinto - Pânico
I) e finalmente a Casa da Pirâmide. Meu medo em lugares altos acontece
quando eu não tenho nada em volta em que possa me segurar e me
dê segurança, ou quando tenho que passar em caminhos estreitos
com aquele buracão à minha frente. Chego suar frio. Vi meu
primeiro pôr-do-sol no Cruzeiro. Na pirâmide apareceu um cara,
que agora eu sei que se chama Eddie,
tocando gaita de fole. Não deu para ver o sol se pôr porque
haviam algumas nuvens, mas mesmo assim, é de tirar o fôlego.
Eu só havia visto finais de tarde como este em Noronha e em São
João da Boa Vista. Depois voltamos para a praça, andamos
mais um pouco por lá, voltamos para a pousada para tomar banho
e saímos para comer pizza.
Procurando, encontra-se
lugares bem baratos para comer. No almoço pagamos R$ 6,00 cada
um, veio quase uma tonelada de comida (arroz, feijão, um tipo de
carne, couve, farofa salada e macarrão), simples, mas muiiito boa.
Só que não me lembro o nome do lugar. Na pizzaria Ser Criativo,
a melhor pizza que já comi até hoje, ao invés de
vir numa forma de alumínio, vem na pedra.
Well, pança cheia de comida, fomos dormir porque no dia seguinte
tinha muita coisa prá fazer.
30/12/2007
Levantamos às 8:00h, tomamos café, que também era
simples, mas farto. Nos besuntamos de protetor, e fomos para a Cachoeira
da Eubiose. De lá fomos para Sobradinho, parando na Cachoeira da
Lua. Chegando em Sobradinho entramos na gruta, e então veio o pânico
parte II. Também tenho medo de entrar em lugares apertados... me
sinto sufocada. Mas já que tô no inferno tenho que abraçar
o capeta hehehe. Entrei, e nem sei como consegui sair. Tomamos um bom
banho nas águas geladíssimas, passamos por Sobradinho, que
mais parece um bairro aqui de S.P. de tão pequena que é
a cidade, e fomos até o Poço das Esmeraldas. A visita até
o Poço não vale à pena. São dois poções
enormes, a água verde escura com aparência de suja. A hora
do almoço já tinha passado há muito tempo. Voltamos
e no caminho almoçamos no Sítio Recanto da Terra, um pouco
depois da Cachoeira da Lua.
Tem um fogão à lenha, as panelas ficam em banho maria e
você come o quanto quiser. Arroz, feijão, frango, costela,
mandioca, couve, polenta. Me fud's porque só gosto de peito de
frango (não tinha) e polenta só como frita (era daquela
molinha). O preço? 10 paus por pessoa.
De lá
voltamos para a Cachoeira do Flávio, Véu de Noiva e do Paraíso.
Mas pãtz... estavam tão cheias que desistimos de entrar
na água. De volta à cidade, banho e vamos andar. Aí
a gente vê as curiosidades da cidade, que eu pelo menos, não
vi em nenhum dos muitos sites que pesquisei. O cemitério fica ao
lado da Igreja Matriz, é bem pequeninho, mas todas as sepulturas
tinham vasos de flores artificiais. Muitas são feitas de quartzito,
a pedra da cidade.
Existem dois túmulos bem antigos um com data de nascimento do final
do século XVII e outro do início do XVIIII. E fora, ao lado
da Igreja, lápides no chão. Era um costume que existia,
sepultar as pessoas mais importantes da cidade dentro da igreja, embaixo
do altar ou nos fundos desta. Neste caso, estão ao lado.
Em Natal tem uma igreja em que os nobres estão enterrados sob o
altar, e os escravos nas paredes laterais. De lá fomos novamente
ver o sol se pôr, mas dessa vez na Pirâmide.
Descemos e fomos jantar,
dessa vez no restaurante Sinhá II, onde você entra na cozinha
e pega a comida direto das panelas que estão nos fogões.
Lá, o preço é por quilo.
Nessa noite pegamos a lanterna e subimos para ver as estrelas na Pirâmide.
Milhares delas.
Algo que aqui em S.P. é inimaginável e que vi pela última
vez há sete anos na Praia do Forte, na Bahia.
O namorido viu uma estrela cadente, e ao longe, conseguíamos ver
os enormes relâmpagos de uma tempestade que caía.
Semi-mortos de cansaço, descemos, perambulamos mais um pouco pela
praça e fomos dormir.
31/12/2007
Nesse dia levantamos mais cedo que era para não correr o risco
de chegar nas cachoeiras e já ter um monte de gente. Primeiro fomos
primeiro para o Vale das Borboletas, paramos na Fazenda Boa Vista para
ver o esquema de almoço e pedir informações sobre
Shangrilá;
de lá fomos para a Ladeira do Amendoim e Gruta do Carimbado.
Não vi nada de excepcional na Ladeira, já foi explicado
que é ilusão de ótica o fato dos carros subirem;
na Gruta, Pânico III. Pelos deuses, é hiper apertada, tem
lugares que você tem que passar de lado (se for uma pessoa mais
gordinha, não passa, entala rsrss), e o nome do local dá-se
ao fato de você sair literalmente carimbada pela terra das paredes.
Ainda tem o perigo de se contaminar com as fezes dos morcegos (eu vi alguns,
eca!!) porque não tem como não colocar as mãos nas
paredes e estas, estão cheias de cocô. Ântão
nunca coloque as mãos na boca ou nos olhos depois que entrar na
gruta.
Resolvemos achar Shangri-lá e aí complica. Existem duas
estradas que levam até lá,
a primeira, que é mais perto, praticamente não tem nenhuma
placa indicando. Existem muitas bifurcações na estrada que
você não sabe para que lado seguir. Paramos numa fazendinha
e perguntamos, já era a terceira vez. Resumindo, você sempre
sempre pega à sua direita na estrada principal, depois de passar
por uma igrejinha e uma escola, encontra uma pedra com uma seta, e vai
embora até o fim da vida. A estrada, como todas, é de terra,
mas o problema é o cascalho que existe em alguns trechos, principalmente
nas subidas. É bom para caminhões, mas para moto um desastre.
Tive que descer e subir a pé duas vezes. E numa dessas vezes a
moto derrapou e só não enfiamos os focinhos no arame farpado
porque tivemos a reação rápida de colocarmos o pé
no morrinho. Bati a perna no apoio do pé e um teco de carne ficou
por lá mesmo....
Depois de
muito sacolejar, achamos a cachoeira. É um local bonito, tinha
pouquíssima gente. Aí soubemos que tem outra estrada que
chega lá, e resolvemos voltar por ela. É oposta ao lado
que viemos. O problema é que tem uma ladeira íngreme, cheia
de cascalho que até os carros têm dificuldade para subir,
a moto então... resultado, subi a pé de novo e a moto, no
meio do caminho não subia, só patinava nas pedras. A sorte
é que logo veio um pessoal de carro e um rapaz gente fina ajudou
o namorido empurrar. Voltar por esta é mil vezes mais fácil,
já que existe somente uma bifurcação, com placa indicando
a estrada, e a base do exército logo depois dessa bifurcação,
o problema é que você sai muito mais longe da cidade, tipo
uns 15km depois. Na estrada mais complicada, a distância até
lá não chega a 10km. Almoçamos na Fazenda Boa Vista,
que tem o mesmo esquema do Sítio Recanto e o preço é
o mesmo. Aliás, praticamente foi jantar, pois eram quase 17h quando
comemos.
Chegamos na cidade, tomamos banho, fomos andar e comprar as camisetas
e badulaques. Havia
um grupo daqueles homens religiosos que tocam violão com o estandarte,
a Compania de Santos Reis do Alfredinho e ficamos sentados vendo. Depois
voltamos para a pousada para pegar agasalho porque íamos ver a
queima de fogos no Cruzeiro. Ainda bem que subimos cedo, chegamos lá
em cima umas 23:15h, ainda deu para pegar um lugar legal, mas logo ficou
impossível até andar, porque lotou de gente. Depois descemos
e fomos dormir, infelizmente, o dia seguinte era o dia de voltar.
01/01/2008
Como só
viajaríamos depois do almoço, ainda fomos novamente na Cachoeira
Véu de Noiva, mas nem entramos na água. Almoçamos
no Sinhá II, amarramos as bagagens, e byebye S. Thomé.
Em todos os dias que ficamos lá, S. Pedro foi extremamente generoso;
não caiu uma gota de chuva, pelo contrário, fez um tempo
lindo, limpo, e muito calor. Segundo nos disseram, há muitos anos
que não chovia numa virada de ano.
A última imagem
que tive da cidade, foi quando entramos em Três Corações,
e a vi lá ao longe, bem pequeninha em cima da montanha. Meu coração
ficou apertadinho. Mas tenho certeza de que um dia vou poder postar novas
fotos daquele lugar, e é isso que me consola.
Algumas das fotos que tirei estão nas páginas seguintes.
Tentei não colocar muitas, mas...
Algumas dicas
Se fôr para lá
sem estar motorizado, existem duas formas de conseguir visitar as cachoeiras
mais distantes: contratando um guia ou pedindo carona ( o que não
acho muito seguro nos dias de hoje). As mais próximas da cidade
são a Eubiose e Vale das Borboletas, cuja distância é
de aproximadamente 3km da cidade. Prá ir, beleza, é descida,
mas prá voltar...
- Sempre leve um saco
plástico para guardar seu lixo. Não existem lixeiras na
maioria das cachoeiras.
- Em muitos lugares não
existe nenhum local aonde você pode comprar água ou algo
para comer. Leve (mas traga seu lixo de volta).
- Se você não
gosta de gente bêbada ou de cheiro de camonha, nem chegue perto
da cidade. Se fumaça tivesse o efeito de deixar doidão,
estava assim até agora hehe.
- Mulheres, nem pensem
em usar tamancos ou sapatos de salto. O calçamento é irregular,
próprio para uma boa torção de pé. O ideal
é tênis ou chinelo de dedo.
- Em nehuma das cachoeiras
que fui vi pernilongos ou borrachudos, não sei se em outras épocas
do ano eles aparecem; se você tiver alergia à algum deles
como eu, por precaução leve repelente. E se fizer sol abuse
do protetor solar, o calor lá é enorme.
- Você vai ver
minha a mesma camiseta e bermuda em quase todas as fotos. "A porca
não trocava de roupa??" você deve estar se perguntando...
Elementar meu caro leitor... é besteira usar uma nova cada vez
que você visitar as cachoeiras, afinal come-se pó o tempo
todo e a roupa fica imunda, então o mais lógico é
usar sempre a mesma.
- À noite pegue
sua lanterna e suba até a Casa da Pirâmide, deite no chão
e olhe para o céu.
É um espetáculo indescritível.
- Na frente da gruta
de São Thomé existem dois banheiros públicos. Quando
eu fui, de tarde, estavam limpíssimos. Já à noite
não posso garantir a limpeza...
- Eu, particularmente,
penso que não dá para ir na maioria das cachoeiras com crionças
e se divertir. Os acessos são difíceis, barrancos íngremes
aonde você tem que se segurar no tronco das árvores (quando
existem), pedras altas e pontudas, caminhos estreitos. Em Shangrilá,
por exemplo, existe uma pedra que para contornar é preciso pular
de uma ponta para outra, e não tem nada que te segure caso você
caia para frente, é preciso se segurar na própria pedra.
Lembra dos desenhos animados aonde o personagem tem que passar raspando
no barranco, numa faixa minúscula de terra e na frente dele tem
um abismo? É igualzinho. Porém, tem quem leve a crionçada.
Aí vai de cada um; noção de divertimento e perigo
é igual nariz: cada um tem o seu hehe.
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